sexta-feira, 13 de abril de 2012

A-ha - Living a boy's adventure tale

Eu sou fã do A-ha desde "sempre" (desde a infância do grupo), ou desde o dia em que, no "rádio-gravador" Sanyo do meu Tio Geraldo, quando ficava tomando conta da barraquinha de balas e doces (aqui na Paraíba chamadas de fiteiros) na frente da casa dele, ouvi "Take on me". Foi daí que comecei a ficar fissurado em guardar tudo nas velhas fitas Basf laranja (mas geralmente ficava com as Scotch, pois eram mais baratas, e sonhava com as Gradiente ou TDK Metal, caríssimas). Naquele longínquo ano de 1984 muita coisa ia mudar na minha vida e na de um monte de moleques da rua. De repente era um para um lado com discos do Queen, outro com discos do The Cure, tudo emprestado de algum conhecido endinheirado, e a gente rodando pra achar algum lugar pra gravar em fitas sem pagar (cheguei a ir várias vezes de trem para uma cidade vizinha porque um cara que simpatizou comigo me deixava gravar na aparelhagem de som de um clube (!!!). O pop tomava conta do mundo de vez! Adolescente rebelde, já se dizendo ateu e fora da igreja, quando pus as mãos no vinil "Hunting High and Low", parecia que tinha achado um quarto ao mesmo tempo escuro e luminoso (rá rá rá... será que minha esquizofrenia verbal já tinha nascido?) onde podia ficar sem ninguém perturbar. Começava a arranhar no inglês e a traduzir as músicas mais queridas palavra por palavra com um dicionário do meu irmão - o bom e até hoje insuperável minidicionário Amadeu Marques. As palavras nessa música, falando de um menino/jovem/homem que se manda de casa, do julgo e sei lá mais o quê, parecia mais um mantra. E o arranjo de teclado com notas extensas e de uma atmosfera límpida e azul(é essa a impressão que me dão até hoje) só tornava aquela maravilhosa melancolia mais íntima. Não, ninguém era "only dark" e queria se matar, pois no íntimo não queríamos deixar de curtir aquele mundinho de som onde nossa extrema pobreza material só arranhava... e todos nós curtíamos também o futebol nas ruas de terra, os passeios intermináveis nos mangues, olhar "qualquer" vizinha tomando banho no quintal, roubar frutas na feira etc. etc. etc. I need some time now on my own/Leave my loneliness alone/To lick my wounds (preciso de um tempo comigo agora; deixar minha solidão curar sozinha minhas feridas). Que adolescente fudido e espancado física e psicologicamente não ia achar que isso era mais importante e melhor do que o tal do pai nosso?

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